Acordei às seis e meia ao som do
despertador de meu Iphone. Tocava “My
heart beats for Love”, uma das minhas musicas favoritas da Miley Cyrus. Mais um dia para brilhar iniciava-se. Lorena e eu
constituíamos as únicas da escola a possuir aparelhos da Apple. Éramos deusas entre humanos. Levantei e fui direto para
frente do espelho. Estava com um pijama branco recheado de cabeças de
coelhinhos de cor rosa. Minhas pantufas eram coelhinhos rosa.
- Eu sou muita linda. – joguei
meus loiros cabelos perfeitos para trás dos ombros. Tinha que admitir: eu era
impecável. Tinha olhos azuis! Vivia me gabando
disto. Ganhara duas vezes com Lorena, o concurso de garotas mais bonitas da
cidade e fui à miss Vila Verde do ano passado.
A porta se abriu.
- Seu café, senhorita Buccont.
–era minha empregada Anastácia. Havia me esquecido o quanto ser rica era bom.
Quer dizer, bom, era uma palavra muito simples para o que desfrutava.
- Deixe ai na mesinha. Irei tomar
banho agora.
- Claro. –após isso fui para o
banheiro.
Tomei meu banho. O que faríamos
com Sara me deixava tão alegre que parecia ser meu aniversario. Novamente fui
para diante do espelho. Usava um vestido rosa Pink, acompanhado dum pingente em
formato de coração de ouro. Meus maravilhosos cabelos loiros e lisos brilhavam
e cheiravam muito bem. Usava uns cinco cremes, xampus e condicionadores para deixa-lo
em tal estado. Fazia as unhas toda semana. Estavam de cor transparente devido à
base. Adorava acessórios como anéis, pulseiras e brincos. O anel que usava,
ganhei do meu namorado Nicolas, o garoto mais lindo de todos. Por fim, usava um par de saltos altos, com pontas finas, branco. Me maquiei, obviamente, e peguei minha
linda bolsa rosa cintilante de grife, que continha meu kit salva-vidas: blush,
batom, pó compacto, lápis de olho e de boca, entre outros. Meus lábios
perfeitos estavam com uma cor rosa, mas
num tom claro. Adorava rosa. Tomei meu café e desci a cozinha. Papai já estava
indo para o trabalho.
- Pai espera! Preciso de carona
para instituto. –odiava ir caminhando. Pessoas ricas usam carros e não os pés
para chegarem aos lugares onde desejam.
- Peça a sua mãe. Não posso
perder meu precioso tempo com você. –meu pai existia em prol dos negócios.
Vivia dizendo que eu era imprestável e tudo que sabia fazer era gastar. Isso me
magoava muito. –Tudo bem. –respondi com voz triste.
Não iria deixar meu dia ser
estragado. Sentei no sofá de couro marrom da sala de estar. Havia duzentas e
treze mensagens no meu whatsapp. Era
extremamente popular. Para ser conhecido, prestigiado, ou ter boa fama no
instituto, tinha que ser aprovado por mim e Lorena. A maioria fingia e bajulava.
Os que renegavam-se caiam no esquecimento e boatos maus a seu respeito surgiam
por todas as partes. Havia alguns que mesmo se esforçando seriam nossos
inimigos. Eram estes: os que ignoravam a moda, os “pôser”s, e os invejosos. Lorena odiava os dois últimos num nível
maior que o meu. Meus inimigos principais eram os que fugiam a moda, as
“santinhas”- odiava de coração meninas sonsas e quietinhas- e as periguetes.
Sara era a nova vadia inimiga. A menina
me dava um nojo tremendo. As duzentas e treze mensagens eram dum grupo que só participava
eu, Lorena e Dennis. Fofocávamos de todo mundo ali, desde professores, pais,
vizinhos, ninguém escapava. Dennis havia alterado o título do grupo as nove e
vinte três da noite para “Saravaca”.
- Amei o titulo (kkkk). É mesmo uma vaca. –postei.
- Bom dia joia. –Respondeu Dennis
alguns instantes depois, acompanhado dum emoji
apaixonado. –“Eu sei (kkk).” Completou
acompanhado do emoji duma vaca.
- TODOS PRONTOS PARA O TROTE?
–postei em maiúsculo.
- Demorou... –postou Lorena.
- Com certeza, gata! –amava as
bajulações de Dennis.
- Fez o combinado?
- Sim. Copiei as imagens
selecionadas para o meu pen drive e
passei na impressão. Só falta receber agora.
- Ótimo Dennis. Você é minha borboleta
favorita!
- Ainda estou rindo “pacas” imaginando a reação dela ao
ver... –Lorena seria a mais beneficiada com o trote. Sei que ela está parecendo
meio desesperada, mas acreditem ela não é assim. É “fogo” gostar de um menino há cinco anos e no momento que parece que
tudo vai dar certo, surge uma biscate
do inferno querendo tomá-lo.
- Chego aí em minutos. –postei e fui falar com
minha mãe para me levar.
Entramos no carro e partimos. No
caminho, só podia ser coincidência do destino, avistei o demônio.
- Mãe, por favor, pare perto
daquela menina.
Estava com um vestido sem mangas,
longo que ia mais ou menos até os joelhos. Era branco, mas possuía como que
manchas e bolinhas de cor verde e azul claro. Não estava usando mochila. Levava
um fichário azul escuro na mão. Quanto ao penteado parece que só conhecia o
rabo de cavalo, pois estava com ele novamente. Não estava usando batom, nem
brincos, apenas o velho pó compacto. Mas quando olhei para o que estava
calçando, quase tenho uma parada cardíaca: usava um chinelo rosa. Que tipo de
pessoa usa chinelo?!... Entrei em crise de risos. Ela definitivamente era muito
pobre e palhaça.
Parei de ri quando observei que
andava retinha como uma boa pessoa. Não seria nada mau se mamãe acelerasse,
subisse na calçada e a atropelasse. Seria muito divertido. Ou talvez pudesse soltar
um pitbull feroz para mordê-la? Não.
Coitado do cachorrinho, que no instante que ingerisse algum pedaço dela,
morreria instantaneamente. Era uma pena, enfim, eu não ter uma arma, afinal se
portasse uma, poderia disparar vários tiros contra ela.
- Sara! Gritei assim que nos
aproximamos.
- Olivia? – me olhou surpresa.
- Eu vou com você até o
instituto. Pode ser?
- Claro. – a menina era muito
cínica. Aposto que queria ter dito não. Sentia que ela não gostava de mim. Em
seguida, despedi-me e desci do carro. Só fiz isso por que fazia parte do plano.
- Aquela era sua mãe?
“Claro, né animal?” –pensei em
falar, mas voltei atrás. –Era. –respondi. Percebi então que além de sonsa, era
“burra” e intrometida.
- Estou muito nervosa. –Jura? Ela
não me enganava. Conhecia esse tipo de menina muito bem. Deveria estar
preocupada se conseguiria ficar com
algum garoto hoje.
- Não precisa se preocupar. Você
adorar. –e como ela iria adorar!
- Vamos estudar juntas. –disse-me
com um sorrisinho falso. Não sei o que estava me impedindo de dar um soco
naquela cara lisa.
–Vamos?
- É. Eu notei isto no dia em que
fizemos a matricula. Você, assim como eu, ficou na turma do segundo ano.– tive
certeza de que era bisbilhoteira.
–Que bom. Fico feliz em
estudarmos juntas.
Finalmente chegamos no instituto.
Fomos recebidas por Lorena, que ansiosamente me aguardava perto do portão.
Estava vestida com uma blusinha de cor verde claro, com uma minissaia jeans.
Calçava sapatilhas brancas com preto. Sua bolsa era preta com traços vermelhos
e verdes. Diminui meus passos, de forma
que pude enviar gestos para Lorena. Sara ficou entre nós, e em minha frente.
Fiz uma cara de nojo e disse em linguagem labial: Ela é um saco. Lorena riu. A
idiota, achando que se tratava dela, retribui rindo falsamente como sabia
fazer. Lorena a abraçou. Cruzei os braços, inclinei a cabeça, ainda com cara de
nojo e fiquei olhando séria. Elas separaram-se e Dennis chegou.
- Oi gatas!
- Oi Dennis. Respondi igualmente
com Lorena.
- E você é? -perguntou apontando
com o indicador.
- Sou Sara.
- Hum. –Dennis fez uma cara muito
irônica quando ela se apresentou. –Me falaram de você. -Ela nos olhou e mais uma
vez deu seu sorrisinho falso.
- Seu namorado vem hoje, Oly?
–Lorena só apelidava-me dessa forma quando havia algum inimigo na área e
queríamos mandar indiretas. Era o nosso código secreto.
- Acredita que eu não sei? Não
nos falamos a semana inteira. –falei com uma expressão triste. Havia entrado no
jogo.
- Tomara que ninguém tenha
“pego”. Sabe como são periguetes, né? –Lorena concluiu inclinando a cabeça e
com as mãos na cintura. Realçou boquiaberta e levantando as sobrancelhas.
- Meu bem, ele me ama. Jamais me
trairia. –falei colocando a mão esquerda no tórax e num tom convencido.–E as
que fizerem isto não tem amor à vida. –conclui com raiva. Era extremamente
ciumenta. Por esse motivo, meninas assanhadas e quietinhas logo eram minhas
inimigas. A única amiga que possuía era Lorena, embora, Dennis me lembrasse
outra. Sara nos observava com uma expressão de que não compreendia. Tinha
certeza, porém, que estava fingindo. Pessoas muito comportadas, “santas” e
boazinhas nunca me convenceram, afinal, ninguém é perfeito.
- Vocês conhecem uma menina chamada
Jennifer? –Perguntou-nos Sara mudando de assunto. Acho que havia se “tocado”.
- Como ela é? –indaguei.
- Branca, tem cabelos pretos que
vão até os ombros...
- Ela tem uma pintinha preta
embaixo do nariz?
- Sim. –alegrou-se ao perceber
que poderíamos conhecê-la. Achei isso muito estranho, aumentando minhas
desconfianças a respeito de sua pessoa. Dennis, incrivelmente estava calado.
Falo incrível, porque raramente parava a boca. Era uma tagarela recheada de
fofocas e sempre de prontidão a bisbilhotar a vida alheia. Eu, claro, adorava
isso às vezes.
- Conhecemos. Ali é uma biscate. A cidade toda já se divertiu
com ela, se é que me entende. –falou enojado e franzindo a testa, voltando ao
seu normal.
- Nossa. Sério? –morria de
vontade de socar a cara dela quando
fazia isso. Sua voz era fina e falava calma, como se estivesse realmente preocupada
ou triste por Jennifer. Não caía nessa, mas me parecia esforçada em demonstrar que
tinha bom coração. De repente um homem estranho chegou onde estávamos. Era um
dos funcionários do instituto, chamado Fábio. Apelidado de floco de neve,
devido à pele, cabelos, barba comum e sobrancelhas serem fortemente brancos, tinha
olhos azuis claros e andava sempre com boné e camisas de futebol americano. Um
senhor com espírito jovem e extremamente bacana. Todos o amavam. Seu único
defeito era não conhecer profissionais ou maquinas de depilação, já que tinha
pelos tão grandes e notáveis nos braços e pernas que lembravam a idade das
cavernas.
- Aqui está. –entregou a Dennis
uma pasta feita de papel, cor laranja e em forma de envelope. A pasta possuía
um volume muito grande, como se estivesse cheia de papeis.
- Obrigado, lindo. –Dennis
virou-se e me piscou o olho. Toquei-me então que se tratavam das imagens
recolhidas para humilhar Sara. - MEU JESUS! SANTA MODA! –gritou em seguida de
forma espantosa. Sara e Lorena assustando-se, recuaram para trás. Acho que até
o outro lado da cidade havia ouvido. Morávamos nos Estados Unidos. Ficamos
olhando apreensivas, esperando saber o motivo de tal reação.
- Ficou maluco? –Lorena havia se
irritado com sua atitude.
- Olhem aquilo! –apontou com o indicador,
em crise de risos. O motivo: as inseparáveis Jennifer e Cíntia. Jennifer –a rainha
das vadias- era a menina mais vulgar
de toda Vila Verde. Tinha o rosto bem
largo e sobrancelhas escuras. A pintinha preta que possuía embaixo do nariz
danificava ainda mais seu rosto acabado. Seus cabelos eram volumosos, mas
curtos. Estava com os cabelos soltos e cheio de fios a mostra - típico de
individuo inferior. Estava usando um shortinho verde e uma blusa longa preta
tão transparente, que deixava a mostra seus sutiãs verdes. Calçava um salto
plataforma verde escuro. Qualquer homem a podia ter. Não tinha preferências e
aceitava todos os gostos. Ficava impressionada com sua atitude de objeto,
afinal era o que seria na mão dos meninos. Tinha ódio e nojo, pois pessoas como
ela, denegriam a imagem feminina. Cíntia, por sua vez, possuía tamanho ideal
para quem possuía dezessete anos, a idade quase unanime no instituto. Seus
cabelos eram médios e castanhos, estando no momento caído para o lado direito.
Era cheinha, com seus seios grandes. Por que as peruas são quem tem os melhores seios? Mas discutiria isto com Deus
depois de morta. Possuía a boca larga, o nariz longo e empinado e olhos rasos.
Usava um batom vermelho bem forte, sombras pretas nos olhos e blush rosa.
Estava vestindo uma blusa cinza com mangas, uma minissaia vermelha florida.
Calçava sandálias sujas de cor branca.
- AI MEU DEUS! –gritei sorrindo.
- Aquela é Jennifer. –falou Sara
impressionada ao vê-las. Gostaria de saber o motivo, mas estava ocupada demais
rindo.
- Sabemos. –afirmou Lorena a
olhando indiferente.
- Quem é a outra?
- Cíntia. –ela estava muito
interessada nelas. Considerei que podia ser lésbica, mas como possivelmente
estava interessada no Vinicius, logo descartei. Ela era igual à Cíntia e
Jennifer, com um único diferencial: era cínica. Ao menos as outras mostravam a
todos quem eram.
- Tem gente que não sabe a
diferença entre o circo que trabalha e o instituto no qual estuda. –exclamou Dennis
escarnecendo. Quando pegávamos cenas de terror como agora, zombávamos o máximo
que podíamos.
- Circo? Mandou bem. –falou
Lorena rindo.
- Se este circo tiver polidances
e muitos homens como clientes, sim. Elas trabalham nele. –acrescentei, literalmente
chorando de ri. Sara não dava um só sorriso e fazia uma expressão como se
estivesse passando mal. Jennifer e Cíntia percebendo que riamos delas, vieram
ao nosso encontro.