terça-feira, 9 de setembro de 2014

CAPITULO 4

Acordei às seis e meia ao som do despertador de meu Iphone. Tocava “My heart beats for Love”, uma das minhas musicas favoritas da Miley Cyrus. Mais um dia para brilhar iniciava-se. Lorena e eu constituíamos as únicas da escola a possuir aparelhos da Apple. Éramos deusas entre humanos. Levantei e fui direto para frente do espelho. Estava com um pijama branco recheado de cabeças de coelhinhos de cor rosa. Minhas pantufas eram coelhinhos rosa.
- Eu sou muita linda. – joguei meus loiros cabelos perfeitos para trás dos ombros. Tinha que admitir: eu era impecável. Tinha olhos azuis! Vivia me gabando disto. Ganhara duas vezes com Lorena, o concurso de garotas mais bonitas da cidade e fui à miss Vila Verde do ano passado.
A porta se abriu.
- Seu café, senhorita Buccont. –era minha empregada Anastácia. Havia me esquecido o quanto ser rica era bom. Quer dizer, bom, era uma palavra muito simples para o que desfrutava.
- Deixe ai na mesinha. Irei tomar banho agora.
- Claro. –após isso fui para o banheiro.
Tomei meu banho. O que faríamos com Sara me deixava tão alegre que parecia ser meu aniversario. Novamente fui para diante do espelho. Usava um vestido rosa Pink, acompanhado dum pingente em formato de coração de ouro. Meus maravilhosos cabelos loiros e lisos brilhavam e cheiravam muito bem. Usava uns cinco cremes, xampus e condicionadores para deixa-lo em tal estado. Fazia as unhas toda semana. Estavam de cor transparente devido à base. Adorava acessórios como anéis, pulseiras e brincos. O anel que usava, ganhei do meu namorado Nicolas, o garoto mais lindo de todos. Por fim, usava um par de saltos altos, com pontas finas, branco. Me maquiei, obviamente, e peguei minha linda bolsa rosa cintilante de grife, que continha meu kit salva-vidas: blush, batom, pó compacto, lápis de olho e de boca, entre outros. Meus lábios perfeitos estavam com uma cor rosa, mas num tom claro. Adorava rosa. Tomei meu café e desci a cozinha. Papai já estava indo para o trabalho.
- Pai espera! Preciso de carona para instituto. –odiava ir caminhando. Pessoas ricas usam carros e não os pés para chegarem aos lugares onde desejam.
- Peça a sua mãe. Não posso perder meu precioso tempo com você. –meu pai existia em prol dos negócios. Vivia dizendo que eu era imprestável e tudo que sabia fazer era gastar. Isso me magoava muito. –Tudo bem. –respondi com voz triste.
Não iria deixar meu dia ser estragado. Sentei no sofá de couro marrom da sala de estar. Havia duzentas e treze mensagens no meu whatsapp. Era extremamente popular. Para ser conhecido, prestigiado, ou ter boa fama no instituto, tinha que ser aprovado por mim e Lorena. A maioria fingia e bajulava. Os que renegavam-se caiam no esquecimento e boatos maus a seu respeito surgiam por todas as partes. Havia alguns que mesmo se esforçando seriam nossos inimigos. Eram estes: os que ignoravam a moda, os “pôser”s, e os invejosos. Lorena odiava os dois últimos num nível maior que o meu. Meus inimigos principais eram os que fugiam a moda, as “santinhas”- odiava de coração meninas sonsas e quietinhas- e as periguetes. Sara era a nova vadia inimiga. A menina me dava um nojo tremendo. As duzentas e treze mensagens eram dum grupo que só participava eu, Lorena e Dennis. Fofocávamos de todo mundo ali, desde professores, pais, vizinhos, ninguém escapava. Dennis havia alterado o título do grupo as nove e vinte três da noite para “Saravaca”.
- Amei o titulo (kkkk). É mesmo uma vaca. –postei.
- Bom dia joia. –Respondeu Dennis alguns instantes depois, acompanhado dum emoji apaixonado. –“Eu sei (kkk).” Completou acompanhado do emoji duma vaca.
- TODOS PRONTOS PARA O TROTE? –postei em maiúsculo.
- Demorou... –postou Lorena.
- Com certeza, gata! –amava as bajulações de Dennis.
- Fez o combinado?
- Sim. Copiei as imagens selecionadas para o meu pen drive e passei na impressão. Só falta receber agora.
- Ótimo Dennis. Você é minha borboleta favorita!
- Ainda estou rindo “pacas” imaginando a reação dela ao ver... –Lorena seria a mais beneficiada com o trote. Sei que ela está parecendo meio desesperada, mas acreditem ela não é assim. É “fogo gostar de um menino há cinco anos e no momento que parece que tudo vai dar certo, surge uma biscate do inferno querendo tomá-lo.
 - Chego aí em minutos. –postei e fui falar com minha mãe para me levar.
Entramos no carro e partimos. No caminho, só podia ser coincidência do destino, avistei o demônio.
- Mãe, por favor, pare perto daquela menina.
Estava com um vestido sem mangas, longo que ia mais ou menos até os joelhos. Era branco, mas possuía como que manchas e bolinhas de cor verde e azul claro. Não estava usando mochila. Levava um fichário azul escuro na mão. Quanto ao penteado parece que só conhecia o rabo de cavalo, pois estava com ele novamente. Não estava usando batom, nem brincos, apenas o velho pó compacto. Mas quando olhei para o que estava calçando, quase tenho uma parada cardíaca: usava um chinelo rosa. Que tipo de pessoa usa chinelo?!... Entrei em crise de risos. Ela definitivamente era muito pobre e palhaça.
Parei de ri quando observei que andava retinha como uma boa pessoa. Não seria nada mau se mamãe acelerasse, subisse na calçada e a atropelasse. Seria muito divertido. Ou talvez pudesse soltar um pitbull feroz para mordê-la? Não. Coitado do cachorrinho, que no instante que ingerisse algum pedaço dela, morreria instantaneamente. Era uma pena, enfim, eu não ter uma arma, afinal se portasse uma, poderia disparar vários tiros contra ela.
- Sara! Gritei assim que nos aproximamos.
- Olivia? – me olhou surpresa.
- Eu vou com você até o instituto. Pode ser?
- Claro. – a menina era muito cínica. Aposto que queria ter dito não. Sentia que ela não gostava de mim. Em seguida, despedi-me e desci do carro. Só fiz isso por que fazia parte do plano.
- Aquela era sua mãe?
“Claro, né animal?” –pensei em falar, mas voltei atrás. –Era. –respondi. Percebi então que além de sonsa, era “burra” e intrometida.
- Estou muito nervosa. –Jura? Ela não me enganava. Conhecia esse tipo de menina muito bem. Deveria estar preocupada se conseguiria ficar com algum garoto hoje.
- Não precisa se preocupar. Você adorar. –e como ela iria adorar!
- Vamos estudar juntas. –disse-me com um sorrisinho falso. Não sei o que estava me impedindo de dar um soco naquela cara lisa.
 –Vamos?
- É. Eu notei isto no dia em que fizemos a matricula. Você, assim como eu, ficou na turma do segundo ano.– tive certeza de que era bisbilhoteira.
–Que bom. Fico feliz em estudarmos juntas.
Finalmente chegamos no instituto. Fomos recebidas por Lorena, que ansiosamente me aguardava perto do portão. Estava vestida com uma blusinha de cor verde claro, com uma minissaia jeans. Calçava sapatilhas brancas com preto. Sua bolsa era preta com traços vermelhos e verdes.  Diminui meus passos, de forma que pude enviar gestos para Lorena. Sara ficou entre nós, e em minha frente. Fiz uma cara de nojo e disse em linguagem labial: Ela é um saco. Lorena riu. A idiota, achando que se tratava dela, retribui rindo falsamente como sabia fazer. Lorena a abraçou. Cruzei os braços, inclinei a cabeça, ainda com cara de nojo e fiquei olhando séria. Elas separaram-se e Dennis chegou.
- Oi gatas!
- Oi Dennis. Respondi igualmente com Lorena.
- E você é? -perguntou apontando com o indicador.
- Sou Sara.
- Hum. –Dennis fez uma cara muito irônica quando ela se apresentou. –Me falaram de você. -Ela nos olhou e mais uma vez deu seu sorrisinho falso.
- Seu namorado vem hoje, Oly? –Lorena só apelidava-me dessa forma quando havia algum inimigo na área e queríamos mandar indiretas. Era o nosso código secreto.
- Acredita que eu não sei? Não nos falamos a semana inteira. –falei com uma expressão triste. Havia entrado no jogo.
- Tomara que ninguém tenha “pego”. Sabe como são periguetes, né? –Lorena concluiu inclinando a cabeça e com as mãos na cintura. Realçou boquiaberta e levantando as sobrancelhas.
- Meu bem, ele me ama. Jamais me trairia. –falei colocando a mão esquerda no tórax e num tom convencido.–E as que fizerem isto não tem amor à vida. –conclui com raiva. Era extremamente ciumenta. Por esse motivo, meninas assanhadas e quietinhas logo eram minhas inimigas. A única amiga que possuía era Lorena, embora, Dennis me lembrasse outra. Sara nos observava com uma expressão de que não compreendia. Tinha certeza, porém, que estava fingindo. Pessoas muito comportadas, “santas” e boazinhas nunca me convenceram, afinal, ninguém é perfeito.
- Vocês conhecem uma menina chamada Jennifer? –Perguntou-nos Sara mudando de assunto. Acho que havia se “tocado”.
- Como ela é? –indaguei.
- Branca, tem cabelos pretos que vão até os ombros...
- Ela tem uma pintinha preta embaixo do nariz?
- Sim. –alegrou-se ao perceber que poderíamos conhecê-la. Achei isso muito estranho, aumentando minhas desconfianças a respeito de sua pessoa. Dennis, incrivelmente estava calado. Falo incrível, porque raramente parava a boca. Era uma tagarela recheada de fofocas e sempre de prontidão a bisbilhotar a vida alheia. Eu, claro, adorava isso às vezes.
- Conhecemos. Ali é uma biscate. A cidade toda já se divertiu com ela, se é que me entende. –falou enojado e franzindo a testa, voltando ao seu normal.
- Nossa. Sério? –morria de vontade de socar a cara dela quando fazia isso. Sua voz era fina e falava calma, como se estivesse realmente preocupada ou triste por Jennifer. Não caía nessa, mas me parecia esforçada em demonstrar que tinha bom coração. De repente um homem estranho chegou onde estávamos. Era um dos funcionários do instituto, chamado Fábio. Apelidado de floco de neve, devido à pele, cabelos, barba comum e sobrancelhas serem fortemente brancos, tinha olhos azuis claros e andava sempre com boné e camisas de futebol americano. Um senhor com espírito jovem e extremamente bacana. Todos o amavam. Seu único defeito era não conhecer profissionais ou maquinas de depilação, já que tinha pelos tão grandes e notáveis nos braços e pernas que lembravam a idade das cavernas.
- Aqui está. –entregou a Dennis uma pasta feita de papel, cor laranja e em forma de envelope. A pasta possuía um volume muito grande, como se estivesse cheia de papeis.
- Obrigado, lindo. –Dennis virou-se e me piscou o olho. Toquei-me então que se tratavam das imagens recolhidas para humilhar Sara. - MEU JESUS! SANTA MODA! –gritou em seguida de forma espantosa. Sara e Lorena assustando-se, recuaram para trás. Acho que até o outro lado da cidade havia ouvido. Morávamos nos Estados Unidos. Ficamos olhando apreensivas, esperando saber o motivo de tal reação.
- Ficou maluco? –Lorena havia se irritado com sua atitude.
- Olhem aquilo! –apontou com o indicador, em crise de risos. O motivo: as inseparáveis Jennifer e Cíntia. Jennifer –a rainha das vadias- era a menina mais vulgar de toda Vila Verde. Tinha o rosto bem largo e sobrancelhas escuras. A pintinha preta que possuía embaixo do nariz danificava ainda mais seu rosto acabado. Seus cabelos eram volumosos, mas curtos. Estava com os cabelos soltos e cheio de fios a mostra - típico de individuo inferior. Estava usando um shortinho verde e uma blusa longa preta tão transparente, que deixava a mostra seus sutiãs verdes. Calçava um salto plataforma verde escuro. Qualquer homem a podia ter. Não tinha preferências e aceitava todos os gostos. Ficava impressionada com sua atitude de objeto, afinal era o que seria na mão dos meninos. Tinha ódio e nojo, pois pessoas como ela, denegriam a imagem feminina. Cíntia, por sua vez, possuía tamanho ideal para quem possuía dezessete anos, a idade quase unanime no instituto. Seus cabelos eram médios e castanhos, estando no momento caído para o lado direito. Era cheinha, com seus seios grandes. Por que as peruas são quem tem os melhores seios? Mas discutiria isto com Deus depois de morta. Possuía a boca larga, o nariz longo e empinado e olhos rasos. Usava um batom vermelho bem forte, sombras pretas nos olhos e blush rosa. Estava vestindo uma blusa cinza com mangas, uma minissaia vermelha florida. Calçava sandálias sujas de cor branca.
- AI MEU DEUS! –gritei sorrindo.
- Aquela é Jennifer. –falou Sara impressionada ao vê-las. Gostaria de saber o motivo, mas estava ocupada demais rindo.
- Sabemos. –afirmou Lorena a olhando indiferente.
- Quem é a outra?
- Cíntia. –ela estava muito interessada nelas. Considerei que podia ser lésbica, mas como possivelmente estava interessada no Vinicius, logo descartei. Ela era igual à Cíntia e Jennifer, com um único diferencial: era cínica. Ao menos as outras mostravam a todos quem eram.
- Tem gente que não sabe a diferença entre o circo que trabalha e o instituto no qual estuda. –exclamou Dennis escarnecendo. Quando pegávamos cenas de terror como agora, zombávamos o máximo que podíamos.
- Circo? Mandou bem. –falou Lorena rindo.
- Se este circo tiver polidances e muitos homens como clientes, sim. Elas trabalham nele. –acrescentei, literalmente chorando de ri. Sara não dava um só sorriso e fazia uma expressão como se estivesse passando mal. Jennifer e Cíntia percebendo que riamos delas, vieram ao nosso encontro.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

CAPITULO 3





   
Havia conhecido Jennifer no primeiro dia cheguei a Vila Verde. Ela quase morreu. Isso me fazia curiosa: por que ela passou mal? Será que o pó que tinha ficado em minha roupa quando a ajudei, era droga?... Essas perguntas me deixavam muito preocupada.
Mais próxima da pista de skate, a vi em companhia de mais duas meninas, todas com shorts extremamente curtos. Jennifer estava com uma blusa verde que mal escondia seus seios. Era branca, com cabelos pretos que não passavam dos ombros. Seus lábios chamavam atenção pelo forte batom vermelho, completados com sombra preta nos olhos. Possuía uma pintinha preta em baixo do nariz e sua face demonstrava que se tratava de alguém insaciável. Seu corpo era muito bem definido, e com o short que estava seu bumbum chamava muita atenção. Ouviam uma musica que me parecia ser um “funk”. Suas duas amigas estavam sentadas, enquanto Jennifer “requebrava até o chão”.
Não sabia bem o que falar, mas estava decidida a entender melhor. Assim que me aproximei, as três me olharam. Uma delas, que estava sentada, perguntou:
- Quem é essa? – Reconheci que quem questionara era a garota branca de cabelos castanhos, mais uma dos que estavam presente na noite passada.
- Jennifer. –Chamei.
Nesse momento espantaram-se. “Como ela sabe seu nome?” era o que pareciam estar pensando.
- Podemos conversar um momento? –Eu tinha de insistir.
Elas por sua vez, Jennifer e a branca de cabelos castanhos, trocaram olhares demonstrando que sabiam exatamente quem eu era e do que trataria.
- Te conheço? –Sentia que ela queria me afastar.
- Tem certeza que não se lembra?
Suas amigas me olhavam agora com nojo. Jennifer, por sua vez veio até mim.
- É sobre ontem à noite, né?
- Sim. Você quase morreu. O que lhe levou a ter aquela reação?
- Não te devo explicações. Valeu mesmo por ter me ajudado, mas não quero papo contigo.
- Mas...
- Mas nada. –Jennifer voltou para onde estava com as amigas assim que finalizou. Sara retornou a ir pra casa, frustrada agora.
...
Olívia era uma jovem com longos cabelos loiros e lisos. Sua boca tinha lábios avermelhados tão perfeitos que era desejada por toda escola junto com Lorena, que possuía os cabelos pretos ondulados mais perfeitos de toda Vila Verde. Ambas eram brancas e magras, como duas modelos. Estavam ainda indignadas e foram para casa de Dennis, o amigo favorito em comum das duas, pois era extremamente fofoqueiro e amava bajula-las, como um seguidor fiel.
- Dennis! Dennis! –Gritei com uma voz mimada.
- Oi fofas. –Respondeu abrindo a porta todo sorridente. Dennis era afeminado, sempre disposto a falar mal de alguém, causar brigas, ou infernizar os outros. Era branco com cabelos pretos partidos, de estilo “emo” e tão esquelético que chegava lembrar um louva-a-deus. Morava sozinho com sua avó.
- Temos uma emergência. Afirmou Lorena séria. Em seguida entramos em sua casa e demos inicio ao que fazíamos de melhor: fofocar.
- O que houve?
- Há uma nova “vadia” na área. –Afirmei.
- Jura? Quem é a nojenta?
- Sara.
- Sara?
- Ela é nova na cidade. Completou Lorena.
- A conhecemos hoje de manhã quando fomos renovar nossa matrícula no instituto.
- O que têm a dizer dela?
- Branca, loira, usa um rabo de cavalo horrível, provavelmente pela marca barata de cosméticos que compra ou ganha. Infelizmente não é gorda e é extremamente sonsa. A voz dela dá vontade de vomitar. Fala como se fosse um anjo, uma santa. –Minha ironia e repúdio pra falar dela era total.
- Aposto “pegou” todos de onde veio! Falou Dennis com escárnio.
- Pois é! As sonsas são as piores. –Sara era daquele tipo de pessoa que me perguntava por que estava respirando.
- De onde ela é?
- É de Hopecity.
- O QUE?! Escandalizou-se Dennis. –É uma morta de fome!
Assim que terminou, caímos em profunda crise de risos.
- E coloque pobre nisso. Não teve dinheiro nem para pagar um hot-dog. –Continuei ainda sufocada pelas gargalhadas. Percebi, porém, que Lorena não deu uma só risada.
- O que houve musa? Está triste. -Dennis nos chamava por apelidos carinhosos. Esse era o de Lorena.
- A nojenta conheceu o Vinicius. –Era tão vadia que estava fazendo minha amiga triste.
Dennis fez uma rápida expressão de espanto, a abraçou e ficou nos elogiando.
- Ele não é fofo? – O amávamos justamente por isso. Concordava sempre conosco e odiava nossas inimigas. Sara era a nova adversária.
- Precisamos nos livrar dela. Não quero correr o risco de não conseguir pelo menos ficar com Vinicius. Afirmou Lorena desfazendo o abraço.
Nesse momento tive uma ideia brilhante.
- Antes que vocês me agradeçam, eu sei o que vamos fazer.
- O que? Perguntaram curiosos.
- Sara será novata no instituto. Certo?
- Certo.
- O que os veteranos fazem com os calouros?
Eles ficaram pensativos. Como não iria ter paciência de esperá-los, fui direta.
- Trotes.
- Trotes? Ai meu Deus! Como não pensamos nisso?
- O que seria de vocês sem mim? – Tinha de me achar. Eles eram muito burros ás vezes, mas como eu era muito inteligente, estavam seguros.
- Podemos acessar o “facebook” dela. Aposto que tem fotos horríveis. –Dennis era uma resenha, porém pensava como uma porta quase sempre.
Ficamos então rindo e falando mal, todavia, Sara não perdia por esperar.











domingo, 17 de agosto de 2014

CAPITULO 2



Despertei com a forte luz solar em meu rosto. O despertador marcava seis horas. Levantei-me e fui tomar banho. Assim que acabei, desci. Todos estavam dormindo ainda. Tive uma ideia e exultei em fazê-la: passear. Abri a porta devagar e sai.
As ruas estavam ainda vazias, povoadas apenas pelos pássaros. Fui em direção ao parque central, cujo havia visto ontem. 

No caminho, reencontrei o garoto que havia nos pedido socorro. Ao me ver, ele abaixou a cabeça e apressou-se.
Pensei e repensei em falar com ele, mas decidi ficar quieta. Porém ainda me inquietava o que estariam fazendo antes da Jennifer ter passado mal.
Finalmente cheguei ao parque. Ele era enorme e o lugar natural mais bonito que vi na cidade. A conexão que sentia com a natureza naquele momento era muito boa. Sentia paz e alegria. Corri um pouco, girei e me joguei na grama. Foi quando ouvi uma gargalhada.
Olhei rapidamente e vi que era um rapaz branco quem ria de mim.
- Já veio a uma cidade alguma vez na sua vida?
Toda minha paz e alegria foram embora. Estava tão envergonhada, que nem respondi. Fui indo embora o mais rápido que pude.
- Ei! Ei! Gritou ele e veio correndo em minha direção até que parou na minha frente.
- Olhe, me deixa em paz!
- Desculpe, não falei pra te ofender. É que foi engraçada a cena.
Agora que estava mais perto notei que tinha cabelos pretos e olhos azuis encantadores.
- Não imaginei que teria companhia.
- Nem eu. Venho aqui todas as manhãs, mas nunca encontro com ninguém. Pelo menos não nesse horário.
Ri ainda pouco envergonhada.
- Você é novata aqui, não é? Nunca a vi.
- Sou sim.
- Prazer em conhecê-la. Me chamo Vinicius.
- Eu sou Sara.
Assim que apertei sua mão, vi que seu relógio de pulso marcava seis horas e quarenta minutos.
- Ham! Devo estar atrasada!
- Atrasada?
- É. Meus tios vão me matricular hoje no instituto Richard Caned.
- Relaxe, estudo lá há um ano. Farão sua matrícula rapidinho, além de atenderem no período vespertino.
- Mas meus tios ficarão chateados.
- Não fique tão preocupada. Se você quiser eu posso te levar lá.
- Em casa? Não, obrigada.
- No instituto. Eu não me matriculei ainda mesmo.
- É muito gentil de sua parte, mas tenho que recusar.
- Eu insisto, serio.
Seria muito estranho dizer sim, mas como conhecia poucas pessoas na cidade, resolvi aceitar.
- Então tá. -Fui indo embora.
- Que tal dez horas aqui?
- Aqui?
- É.
- Pode ser.
- Pois bem. Até mais.
- Até.
Fui para casa apressada e prevendo o que diriam meus tios. Cheguei altamente desconfiada.
- Onde estava, Sarinha?
- Eu acordei cedo. Vocês estavam dormindo e resolvi passear. –Falei bem rápido. Esperei uma bronca, como minha mãe costumava fazer.
- E passou todo esse tempo passeando? Indagou Beatriz com um tom de insinuação.
- Me desculpe, tio Eddy. - Não daria o gosto de respondê-la.
- Sem problemas, querida.
Respondeu calmo, demonstrando acreditar em mim. Fiquei aliviada.
- “Sorry”, mas só eu acho que ela tava se pegando com algum menino?
- Quem você pensa que eu sou? Você?
- Você já se lavou, Beatriz? Esta na hora!
- Já disse que você não é meu pai, logo você sugere, não manda.
- Podemos conversar depois, Sara?
Meu tio me chamou de Sara? Ele deveria estar chateado. Odiava a forma como ela o tratava.
- Claro que sim. - Em seguida subi para meu quarto.
Fiquei pensando naquele garoto. Quem realmente seria? Deveria me encontrar com ele de novo? Conclui que sim.
Nem precisei contar as horas pois passaram como vento. Troquei de roupa e desci.
- Estamos indo fazer a matricula Sara, vai ir agora?
- Eu irei com um amigo.
-Amigo?Não disse que está ficando com alguém!
- Beatriz, por favor, pare com isso. Pedi.
Meus tios ficaram muito duvidosos e desconfiados, ainda sim me permitiriam ir. Peguei meus documentos e as dez em ponto estava na frente do parque. Alguns minutos se passaram e nada dele. “Deve ter se atrasado. Acontece.” Pensei. Todavia passou-se meia hora, deu onze horas e nenhum sinal dele. Percebi então que não se tratava de atraso e sim “bolo”.
Fiquei decepcionada, pois acreditava que aquela manhã acabaria de outro jeito. Não sabia se meus tios estavam em casa então tudo que poderia fazer era ir eu mesma matricular-se, afinal possuía o necessário. Entretanto onde ficava o instituto?
Por sorte, passavam duas meninas com aparência de uns 16 anos, brancas, sendo uma loira e uma morena.
- Com licença! Vocês podem me informar onde fica o instituto Richard Caned?
- Fica há alguns quarteirões daqui, por quê? Indagou à loira.
- Quero me matricular.
Elas me olharam, como se tivessem tentando se lembrar de mim.
- Não sou daqui.
- Hum.
- Podemos ir com você até lá, se quiser. Sugeriu a morena.
- Adoraria.
Partimos assim que eu confirmei. Sentia-me um pouco estranha andando com elas, devido inicialmente estarem muito bem vestidas e maquiadas e depois por que não tínhamos assunto.
- Qual seu nome? Perguntaram.
- Me chamo Sara.
- Nós somos Olívia e Lorena.  
Olívia era uma loira muito elegante. Lorena tinha cabelos longos e tão bem cuidados que tinham certo brilho.
- De onde você é? Perguntou-me Olívia.
- Hopecity.
- Oi? Nunca ouvi falar. Exclamou Olívia.
- Quer dizer cidade da Esperança. Acrescentei.
- Esperança só no nome, pois está mais pra uma mega periferia! A cidade é miserável. Declarou Lorena.
Aqueles comentários começaram a me ofender.
- Não é tão pobre quanto pensam.
- Você se ofendeu com nossos comentários? Nossa! Desculpa. Não era a intenção. Afirmou Olívia.
- Tudo bem.
- Você vai amar o instituto. Ele é enorme, com quadras, laboratórios, piscinas olímpicas e muitas outras coisas.
- Deve ser lindo mesmo.
- Os professores também são de ótima qualidade. - Acrescentou Lorena- É demais estudar lá. Você vai ver.
Conforme fomos conversando, o tempo passou e breve chegamos.
- É aqui.
 O lugar, vendo de fora, era um edifício majestoso de cor marrom claro, extremamente lindo e bem feito em cada detalhe. Tinha vários andares com janelas de cor preta e textura meio áspera impecável. Era muito belo.
- Vamos entrar! Gritou Olívia e agarrou minha mão.
Por dentro era mais lindo ainda. Havia tantos corredores e escadas que se não estivesse com elas certamente me perderia. Mostraram-me onde ficava a biblioteca, o ginásio, o laboratório e me levaram até a sala onde se faziam as matriculas. Fizemos em questões de minutos. Elas no caso, renovaram. Por fim fomos à lanchonete.
- Você vai adorar o cachorro quente daqui. Afirmou Lorena.
Percebi que não havia trago dinheiro, logo não poderia provar.
- O que desejam senhoritas? Perguntou a funcionária.
- Três hot-dogs. Respondeu Olívia, piscando pra mim em seguida.
Nesse momento me senti mais mal ainda. Elas acreditavam que dispunha das mesmas aquisições que elas, porém estavam enganadas. Eu no momento não tinha dinheiro nem para comprar um cachorro quente.
- Sara! Ouvi uma voz me chamando, todavia, antes que eu me virasse, ele chegou. Era Vinicius.
- Oi. Respondi.
Olívia e Lorena ficaram abismadas. Olhavam como se algo sobrenatural acontecia diante delas. Inquietei-me com isso, mas Vinicius logo cortou.
- Desculpe não ter ido lhe pegar. Meu carro quebrou.
- Sem problema.
- Nos vemos por ai então?- Respondi balançando cabeça.
- Sendo assim até logo.
Mesmo depois que Vinicius se foi, Lorena e Olívia trocavam olhares intrigantes.
- Como vocês se conheceram? Perguntou Olívia.
- Ele iria lhe trazer no carro dele? Indagou Lorena em seguida.
As duas aparentavam estar indignadas. Os hot-dogs chegaram nesse instante.
- Nos conhecemos hoje de manhã.
- Onde?
- No parque central.
- No parque? Questionou Olívia com certo nojo.
- Onde não importa. Ele iria trazê-la no carro dele! Exclamou Lorena com indignação.
- Meninas eu não estou entendendo por que estão agindo assim.
- Você é novata queridinha, por isso que não entende.
- Grande “merda” você falou. É o seguinte Sara: Vinicius é o menino mais rico, inteligente, simpático e o segundo mais bonito da escola. Se bem que pra mim o primeiro lugar é dele.
- Nossa...
- Lorena é apaixonada por ele!
- Eu não!
- É sim.
Enquanto elas discutiam se Lorena amava-o ou não, fiquei pensativa. O menino mais rico da escola foi o que eu conheci hoje de manhã? Estava surpresa.
- Sara?
- Oi.
- Parecia estar aérea...
- Estava mesmo.
- Você não está achando que ele gostou de você, não é?
- Lorena! Repreendeu Olívia, mas riu muito em seguida.
- Jamais. -Respondi.
- Pareceu.
A esta altura já era muito desconfortável estar com elas.
- Não vai comer seu hot-dog?
- Perdi a fome.
- Pois... pelo preço que custa, eu não deixo nem um pedacinho.
- Olívia é morta de fome! Ironizou Lorena rindo.
- Meninas me perdoem mas eu não...
- São apenas seis reais, queridinha.
Que vergonha estava passando, contudo precisava falar:
- Eu não tenho dinheiro aqui. Eu não achei que precisaria.
Elas ficaram me olhando como uma golpista. Em sequencia trocaram olhares que tinha certeza que pensavam a mesma coisa sobre mim.
- Eu pago por você. Não se preocupe com isso. Acontece com todo mundo.
Olívia pagou por mim e saímos. Eu fiquei muito mal pelo constrangimento ao qual nos submeti.
- Me perdoem. Sério.
- Relaxe. Acontece com todo mundo.
- Isso é muito lindo da sua parte, Olívia. Agradeci mais aliviada.
- Que nada.
Lorena ficou calada e parecia estar se prendendo para não ri. O motivo deveria ser minha falta de dinheiro.
- Temos que ir agora, Sara.
- Certo. Até amanhã.
- Até. Responderam e foram embora.
Nesse instante Beatriz apareceu.
- O que estava fazendo com elas? São amigas agora?
- Não, por quê?
- Não importa. Só reforça a ideia de que você veio para destruir minha vida.
- Eu não vou perder meu tempo discutindo com você.
- Perder tempo? Tenho é pena de mim, por ter começado uma conversa com alguém tão desprezível.
Virei às costas e fui embora. Segui o corredor em que estava até encontrar novamente a biblioteca. Lembrei-me que se vi Beatriz, meus tios já estariam em casa.
Assim que deixei o instituto, fiquei em duvida entre que rua levaria a casa dos meus tios. Havia duas: a Rua Primavera e a Avenida do Outono. Observei que quase tudo na cidade tinha relação com a natureza.
Segui na Avenida do Outono. Não muito caminhei e vi uma pista de skate, com vários skatistas fazendo todas aquelas manobras radicais. Entre eles estava Jennifer, a menina que passou mal na noite anterior.
Pensei em fazer como fiz com Anderson, o que vi logo cedo. No entanto, a curiosidade estava me matando e não podia agir como se nada aconteceu. Fui até onde se encontrava.