terça-feira, 9 de setembro de 2014

CAPITULO 4

Acordei às seis e meia ao som do despertador de meu Iphone. Tocava “My heart beats for Love”, uma das minhas musicas favoritas da Miley Cyrus. Mais um dia para brilhar iniciava-se. Lorena e eu constituíamos as únicas da escola a possuir aparelhos da Apple. Éramos deusas entre humanos. Levantei e fui direto para frente do espelho. Estava com um pijama branco recheado de cabeças de coelhinhos de cor rosa. Minhas pantufas eram coelhinhos rosa.
- Eu sou muita linda. – joguei meus loiros cabelos perfeitos para trás dos ombros. Tinha que admitir: eu era impecável. Tinha olhos azuis! Vivia me gabando disto. Ganhara duas vezes com Lorena, o concurso de garotas mais bonitas da cidade e fui à miss Vila Verde do ano passado.
A porta se abriu.
- Seu café, senhorita Buccont. –era minha empregada Anastácia. Havia me esquecido o quanto ser rica era bom. Quer dizer, bom, era uma palavra muito simples para o que desfrutava.
- Deixe ai na mesinha. Irei tomar banho agora.
- Claro. –após isso fui para o banheiro.
Tomei meu banho. O que faríamos com Sara me deixava tão alegre que parecia ser meu aniversario. Novamente fui para diante do espelho. Usava um vestido rosa Pink, acompanhado dum pingente em formato de coração de ouro. Meus maravilhosos cabelos loiros e lisos brilhavam e cheiravam muito bem. Usava uns cinco cremes, xampus e condicionadores para deixa-lo em tal estado. Fazia as unhas toda semana. Estavam de cor transparente devido à base. Adorava acessórios como anéis, pulseiras e brincos. O anel que usava, ganhei do meu namorado Nicolas, o garoto mais lindo de todos. Por fim, usava um par de saltos altos, com pontas finas, branco. Me maquiei, obviamente, e peguei minha linda bolsa rosa cintilante de grife, que continha meu kit salva-vidas: blush, batom, pó compacto, lápis de olho e de boca, entre outros. Meus lábios perfeitos estavam com uma cor rosa, mas num tom claro. Adorava rosa. Tomei meu café e desci a cozinha. Papai já estava indo para o trabalho.
- Pai espera! Preciso de carona para instituto. –odiava ir caminhando. Pessoas ricas usam carros e não os pés para chegarem aos lugares onde desejam.
- Peça a sua mãe. Não posso perder meu precioso tempo com você. –meu pai existia em prol dos negócios. Vivia dizendo que eu era imprestável e tudo que sabia fazer era gastar. Isso me magoava muito. –Tudo bem. –respondi com voz triste.
Não iria deixar meu dia ser estragado. Sentei no sofá de couro marrom da sala de estar. Havia duzentas e treze mensagens no meu whatsapp. Era extremamente popular. Para ser conhecido, prestigiado, ou ter boa fama no instituto, tinha que ser aprovado por mim e Lorena. A maioria fingia e bajulava. Os que renegavam-se caiam no esquecimento e boatos maus a seu respeito surgiam por todas as partes. Havia alguns que mesmo se esforçando seriam nossos inimigos. Eram estes: os que ignoravam a moda, os “pôser”s, e os invejosos. Lorena odiava os dois últimos num nível maior que o meu. Meus inimigos principais eram os que fugiam a moda, as “santinhas”- odiava de coração meninas sonsas e quietinhas- e as periguetes. Sara era a nova vadia inimiga. A menina me dava um nojo tremendo. As duzentas e treze mensagens eram dum grupo que só participava eu, Lorena e Dennis. Fofocávamos de todo mundo ali, desde professores, pais, vizinhos, ninguém escapava. Dennis havia alterado o título do grupo as nove e vinte três da noite para “Saravaca”.
- Amei o titulo (kkkk). É mesmo uma vaca. –postei.
- Bom dia joia. –Respondeu Dennis alguns instantes depois, acompanhado dum emoji apaixonado. –“Eu sei (kkk).” Completou acompanhado do emoji duma vaca.
- TODOS PRONTOS PARA O TROTE? –postei em maiúsculo.
- Demorou... –postou Lorena.
- Com certeza, gata! –amava as bajulações de Dennis.
- Fez o combinado?
- Sim. Copiei as imagens selecionadas para o meu pen drive e passei na impressão. Só falta receber agora.
- Ótimo Dennis. Você é minha borboleta favorita!
- Ainda estou rindo “pacas” imaginando a reação dela ao ver... –Lorena seria a mais beneficiada com o trote. Sei que ela está parecendo meio desesperada, mas acreditem ela não é assim. É “fogo gostar de um menino há cinco anos e no momento que parece que tudo vai dar certo, surge uma biscate do inferno querendo tomá-lo.
 - Chego aí em minutos. –postei e fui falar com minha mãe para me levar.
Entramos no carro e partimos. No caminho, só podia ser coincidência do destino, avistei o demônio.
- Mãe, por favor, pare perto daquela menina.
Estava com um vestido sem mangas, longo que ia mais ou menos até os joelhos. Era branco, mas possuía como que manchas e bolinhas de cor verde e azul claro. Não estava usando mochila. Levava um fichário azul escuro na mão. Quanto ao penteado parece que só conhecia o rabo de cavalo, pois estava com ele novamente. Não estava usando batom, nem brincos, apenas o velho pó compacto. Mas quando olhei para o que estava calçando, quase tenho uma parada cardíaca: usava um chinelo rosa. Que tipo de pessoa usa chinelo?!... Entrei em crise de risos. Ela definitivamente era muito pobre e palhaça.
Parei de ri quando observei que andava retinha como uma boa pessoa. Não seria nada mau se mamãe acelerasse, subisse na calçada e a atropelasse. Seria muito divertido. Ou talvez pudesse soltar um pitbull feroz para mordê-la? Não. Coitado do cachorrinho, que no instante que ingerisse algum pedaço dela, morreria instantaneamente. Era uma pena, enfim, eu não ter uma arma, afinal se portasse uma, poderia disparar vários tiros contra ela.
- Sara! Gritei assim que nos aproximamos.
- Olivia? – me olhou surpresa.
- Eu vou com você até o instituto. Pode ser?
- Claro. – a menina era muito cínica. Aposto que queria ter dito não. Sentia que ela não gostava de mim. Em seguida, despedi-me e desci do carro. Só fiz isso por que fazia parte do plano.
- Aquela era sua mãe?
“Claro, né animal?” –pensei em falar, mas voltei atrás. –Era. –respondi. Percebi então que além de sonsa, era “burra” e intrometida.
- Estou muito nervosa. –Jura? Ela não me enganava. Conhecia esse tipo de menina muito bem. Deveria estar preocupada se conseguiria ficar com algum garoto hoje.
- Não precisa se preocupar. Você adorar. –e como ela iria adorar!
- Vamos estudar juntas. –disse-me com um sorrisinho falso. Não sei o que estava me impedindo de dar um soco naquela cara lisa.
 –Vamos?
- É. Eu notei isto no dia em que fizemos a matricula. Você, assim como eu, ficou na turma do segundo ano.– tive certeza de que era bisbilhoteira.
–Que bom. Fico feliz em estudarmos juntas.
Finalmente chegamos no instituto. Fomos recebidas por Lorena, que ansiosamente me aguardava perto do portão. Estava vestida com uma blusinha de cor verde claro, com uma minissaia jeans. Calçava sapatilhas brancas com preto. Sua bolsa era preta com traços vermelhos e verdes.  Diminui meus passos, de forma que pude enviar gestos para Lorena. Sara ficou entre nós, e em minha frente. Fiz uma cara de nojo e disse em linguagem labial: Ela é um saco. Lorena riu. A idiota, achando que se tratava dela, retribui rindo falsamente como sabia fazer. Lorena a abraçou. Cruzei os braços, inclinei a cabeça, ainda com cara de nojo e fiquei olhando séria. Elas separaram-se e Dennis chegou.
- Oi gatas!
- Oi Dennis. Respondi igualmente com Lorena.
- E você é? -perguntou apontando com o indicador.
- Sou Sara.
- Hum. –Dennis fez uma cara muito irônica quando ela se apresentou. –Me falaram de você. -Ela nos olhou e mais uma vez deu seu sorrisinho falso.
- Seu namorado vem hoje, Oly? –Lorena só apelidava-me dessa forma quando havia algum inimigo na área e queríamos mandar indiretas. Era o nosso código secreto.
- Acredita que eu não sei? Não nos falamos a semana inteira. –falei com uma expressão triste. Havia entrado no jogo.
- Tomara que ninguém tenha “pego”. Sabe como são periguetes, né? –Lorena concluiu inclinando a cabeça e com as mãos na cintura. Realçou boquiaberta e levantando as sobrancelhas.
- Meu bem, ele me ama. Jamais me trairia. –falei colocando a mão esquerda no tórax e num tom convencido.–E as que fizerem isto não tem amor à vida. –conclui com raiva. Era extremamente ciumenta. Por esse motivo, meninas assanhadas e quietinhas logo eram minhas inimigas. A única amiga que possuía era Lorena, embora, Dennis me lembrasse outra. Sara nos observava com uma expressão de que não compreendia. Tinha certeza, porém, que estava fingindo. Pessoas muito comportadas, “santas” e boazinhas nunca me convenceram, afinal, ninguém é perfeito.
- Vocês conhecem uma menina chamada Jennifer? –Perguntou-nos Sara mudando de assunto. Acho que havia se “tocado”.
- Como ela é? –indaguei.
- Branca, tem cabelos pretos que vão até os ombros...
- Ela tem uma pintinha preta embaixo do nariz?
- Sim. –alegrou-se ao perceber que poderíamos conhecê-la. Achei isso muito estranho, aumentando minhas desconfianças a respeito de sua pessoa. Dennis, incrivelmente estava calado. Falo incrível, porque raramente parava a boca. Era uma tagarela recheada de fofocas e sempre de prontidão a bisbilhotar a vida alheia. Eu, claro, adorava isso às vezes.
- Conhecemos. Ali é uma biscate. A cidade toda já se divertiu com ela, se é que me entende. –falou enojado e franzindo a testa, voltando ao seu normal.
- Nossa. Sério? –morria de vontade de socar a cara dela quando fazia isso. Sua voz era fina e falava calma, como se estivesse realmente preocupada ou triste por Jennifer. Não caía nessa, mas me parecia esforçada em demonstrar que tinha bom coração. De repente um homem estranho chegou onde estávamos. Era um dos funcionários do instituto, chamado Fábio. Apelidado de floco de neve, devido à pele, cabelos, barba comum e sobrancelhas serem fortemente brancos, tinha olhos azuis claros e andava sempre com boné e camisas de futebol americano. Um senhor com espírito jovem e extremamente bacana. Todos o amavam. Seu único defeito era não conhecer profissionais ou maquinas de depilação, já que tinha pelos tão grandes e notáveis nos braços e pernas que lembravam a idade das cavernas.
- Aqui está. –entregou a Dennis uma pasta feita de papel, cor laranja e em forma de envelope. A pasta possuía um volume muito grande, como se estivesse cheia de papeis.
- Obrigado, lindo. –Dennis virou-se e me piscou o olho. Toquei-me então que se tratavam das imagens recolhidas para humilhar Sara. - MEU JESUS! SANTA MODA! –gritou em seguida de forma espantosa. Sara e Lorena assustando-se, recuaram para trás. Acho que até o outro lado da cidade havia ouvido. Morávamos nos Estados Unidos. Ficamos olhando apreensivas, esperando saber o motivo de tal reação.
- Ficou maluco? –Lorena havia se irritado com sua atitude.
- Olhem aquilo! –apontou com o indicador, em crise de risos. O motivo: as inseparáveis Jennifer e Cíntia. Jennifer –a rainha das vadias- era a menina mais vulgar de toda Vila Verde. Tinha o rosto bem largo e sobrancelhas escuras. A pintinha preta que possuía embaixo do nariz danificava ainda mais seu rosto acabado. Seus cabelos eram volumosos, mas curtos. Estava com os cabelos soltos e cheio de fios a mostra - típico de individuo inferior. Estava usando um shortinho verde e uma blusa longa preta tão transparente, que deixava a mostra seus sutiãs verdes. Calçava um salto plataforma verde escuro. Qualquer homem a podia ter. Não tinha preferências e aceitava todos os gostos. Ficava impressionada com sua atitude de objeto, afinal era o que seria na mão dos meninos. Tinha ódio e nojo, pois pessoas como ela, denegriam a imagem feminina. Cíntia, por sua vez, possuía tamanho ideal para quem possuía dezessete anos, a idade quase unanime no instituto. Seus cabelos eram médios e castanhos, estando no momento caído para o lado direito. Era cheinha, com seus seios grandes. Por que as peruas são quem tem os melhores seios? Mas discutiria isto com Deus depois de morta. Possuía a boca larga, o nariz longo e empinado e olhos rasos. Usava um batom vermelho bem forte, sombras pretas nos olhos e blush rosa. Estava vestindo uma blusa cinza com mangas, uma minissaia vermelha florida. Calçava sandálias sujas de cor branca.
- AI MEU DEUS! –gritei sorrindo.
- Aquela é Jennifer. –falou Sara impressionada ao vê-las. Gostaria de saber o motivo, mas estava ocupada demais rindo.
- Sabemos. –afirmou Lorena a olhando indiferente.
- Quem é a outra?
- Cíntia. –ela estava muito interessada nelas. Considerei que podia ser lésbica, mas como possivelmente estava interessada no Vinicius, logo descartei. Ela era igual à Cíntia e Jennifer, com um único diferencial: era cínica. Ao menos as outras mostravam a todos quem eram.
- Tem gente que não sabe a diferença entre o circo que trabalha e o instituto no qual estuda. –exclamou Dennis escarnecendo. Quando pegávamos cenas de terror como agora, zombávamos o máximo que podíamos.
- Circo? Mandou bem. –falou Lorena rindo.
- Se este circo tiver polidances e muitos homens como clientes, sim. Elas trabalham nele. –acrescentei, literalmente chorando de ri. Sara não dava um só sorriso e fazia uma expressão como se estivesse passando mal. Jennifer e Cíntia percebendo que riamos delas, vieram ao nosso encontro.